O Sporting – FC Porto desta sexta-feira colocará, frente a frente, dois técnicos que estão, esta temporada, a fazer a sua “formação” enquanto chefes de equipas grandes. Apesar da diferença de idades entre os dois, com Julen Lopetegui a ser onze anos mais velho do que Marco Silva, coincidem na sua carreira como técnicos de equipas grandes e fazem a adaptação possível ao seu novo posto de trabalho.

Uma ideia de grandeza

Lopetegui

Lopetegui persegue a perfeição

Julen Lopetegui teve muitos anos para construir a sua ideia de grandeza. Tendo sido guarda-redes do Real Madrid e do FC Barcelona, viveu por dentro de grandes estruturas e absorveu conhecimentos de vários técnicos. Para além disso, trabalhou nos Merengues como técnico da equipa B e teve a oportunidade de ser comentador televisivo, uma boa forma de organizar o seu pensamento e alinhavar estratégias. Depois de todo esse percurso, o trabalho na Federação, ao nível da formação de jogadores, colocou-o perante uma outra problemática, a dos pormenores na abordagem do jogo, que saltam à vista quando estamos a trabalhar com jovens que desenvolvem ainda as suas características.

Quando olhamos para as opções de Julen Lopetegui desde que aterrou na cidade do Porto, percebemos que tudo aquilo que terá construído mentalmente, está agora a ser colocado em prática nos Dragões. Julen Lopetegui é, ainda assim, um homem em experiências, dado que vai tentando equilibrar os dois pratos da balança, reconhecendo tentativas, explorando alternativas, afastando as opções que não oferecem resultados.

O plantel do FC Porto tem a cara de Lopetegui. Todos os jogadores foram escolhidos pelo técnico. A rotação que impõe à equipa tenta transmitir a ideia de que não haverá uma estrutura titular e todos devem estar preparados para entrar em jogo a qualquer momento. É, também, uma característica de um técnico habituado à formação. Não vê Lopetegui razões para oferecer o conforto da titularidade a quem não esteja disposto a trabalhar. Os dois empates consecutivos na Liga Portuguesa são, para já, apenas um leve risco no plano imaculado que o espanhol tem para a sua equipa.

Eterna adaptação ao contexto

Marco Silva

Marco Silva pondera alternativas

Marco Silva fez toda a sua carreira de jogador entre equipas da Primeira e Segunda Liga nacionais, nunca se tendo afirmado como uma estrela em nenhum dos clubes por onde passou. As memórias de todos aqueles que se cruzaram com ele assentam num mesmo princípio, o de um homem inteligente, consciente das suas qualidades e fragilidades e capaz de se transformar em prol da equipa. Terão sido essas qualidades que o levaram a ser convidado pelo Estoril Praia SAD para passar do relvado para a função de Diretor Desportivo, posição onde tratou de acentuar as suas ligações com os jogadores como forma de construir o plantel que viria a ser o seu, quando na temporada de 2011/12, foi chamado de urgência, para ocupar a posição de treinador.

A história de Marco Silva é a de um homem que está em constante adaptação ao contexto que o rodeia. Foi assim no Estoril, onde passou de solução de recurso à conquista de uma qualificação europeia, com uma subida de divisão pelo meio, está a ser assim no Sporting, um clube grande onde poderá ter chegado cedo demais, mas onde tem demonstrado a personalidade para conseguir lidar com as convulsões naturais de um emblema que luta com adversários de maior poderio financeiro e desportivo.

Ao contrário do seu adversário desta sexta-feira, são poucos os sinais de que Marco Silva tenha estado muito envolvido na escolha das contratações do Sporting. À medida que foi recebendo jogadores, Marco Silva foi encontrando soluções para a equipa, construindo o seu grupo num misto de soluções inesperadas, como o jovem Naby Sarr a entrar como titular perante outras contratações de quem se esperava mais, ou com elementos da academia, como Ricardo Esgaio, a suplantarem o “reforço” André Geraldes. Pelo meio, Marco Silva acabou por beneficiar da sorte de poder guardar consigo elementos muito desejados por emblemas estrangeiros, como William Carvalho e Slimani, para além de ter ainda Nani, talvez o jogador de maior qualidade técnica a jogar na Primeira Liga.

Perante tudo isto, o primeiro duelo entre estes dois treinadores acabará por ser uma prova ao seu crescimento enquanto líderes de equipas grandes. Marco Silva já jogou um dérbi, em Lisboa, e saiu com um satisfatório empate do Estádio da Luz. Julen Lopetegui terá a sua primeira oportunidade para mostrar como reage a um jogo com tal tradição. Certo é que não será apenas o resultado a decidir do sucesso destes técnicos no Sporting – FC Porto de sexta-feira. De um lado ou de outro, quer-se mais do que uma simples vitória ou três pontos.