A atual edição da Gold Cup e o ano de 2015 poderão ser sinónimos de últimos dias da CONCACAF como a conhecemos nos últimos anos, uma entidade diletante e demasiado focada nos interesses comerciais, abandonando de forma brutal e incompreensível que o futebol é uma modalidade que precisa, sobretudo, de ser jogada dentro das quatro linhas de um relvado. A forma como o México chega à final desta prova pode mesmo ser um derradeiro efeito de tudo aquilo que correu mal na forma como foi evoluindo uma Confederação condenada ao insucesso.

O peso do apito

É impossível retirar o peso do apito de uma equação que levou o México até à final da Gold Cup 2015, onde apesar de tudo, chega como favorito. Os homens liderados por Miguel Herrera demonstraram sempre muitas dificuldades para conseguir vestir a pele de um favorito, e se a vitória frente a Cuba é uma consequência natural das diferenças entre profissionais e amadores, os empates com a Guatemala e Trindade e Tobago deixaram bem evidentes as fragilidades de um onze a quem faltam condições para poder jogar um ataque organizado e constante sobre o adversário.

Guardado Mexico

Guardado marca o penálti da polémica.

É um problema que não atinge apenas o México. A Costa Rica, outro membro desta Confederação que esteve em destaque no Mundial de 2014, sente as mesmas dificuldades de transformar um modelo de jogo assente na reação a adversários mais fortes para uma situação em que lhe é exigida a tomada da iniciativa. Esse facto só tornou mais interessante o confronto entre as duas seleções nos quartos-de-final, onde com alguns bocejos à mistura, ambos se preparavam para enfrentar um desempate nas grande penalidades. A situação da marcação de uma grande penalidade em cima do minuto 120, levanta sempre problemas de consciência. Pessoalmente, à terceira repetição do lado oposto ao qual se encontrava o árbitro assistente, pareço encontrar razões para a marcação da mesma. Mas tenho muitas dúvidas que, em tempo real, alguém pudesse ter tanta certeza para a marcar.

O apito voltou a pesar de forma inaceitável na meia-final frente ao Panamá. Aí o México sentiu os mesmos problemas de sempre, as mesmas dificuldades de sempre, e parecia já condenado a ficar-se pelo jogo do terceiro e quarto lugar. No entanto, uma grande penalidade, neste caso inexistente, permitiu um prolongamento onde nova grande penalidade ofereceria ao México a presença na final. É assim que os mexicanos aqui chegaram. Nos jogos a eliminar, apenas marcaram golos através de penaltis, dois deles muito discutíveis. Quem apita a final?

As Caraíbas contra-atacam

A Jamaica já tinha deixado uma excelente imagem na sua participação na Copa América, onde muitos analistas tendem a olhar apenas para três derrotas mas onde toda a atitude da equipa e do seu técnico já pareciam demonstrar que a equipa estava a encarar a prova como uma preparação para a Gold Cup. Aqui chegados, é preciso esquecer toda a informação acessória para analisar o real valor da equipa jamaicana.

Gilles Barnes Jamaica

Barnes mexeu com a forma da Jamaica chegar ao golo.

Para começar, esqueçam os rankings. Winfried Schafer chegou em 2013 para preparar a equipa para dois objetivos. O primeiro deles, na Gold Cup, está atingido. O segundo, no Mundial 2018, parece possível de lá chegar. A equipa “reforçou-se” com a recente entrada para a equipa de Gilles Barnes, um avançado de origem inglesa que atua na MLS, da mesma forma que Darren Mattocks, Kemar Lawrence e Michael Hector dão os primeiros passos como figuras de relevo na sua seleção. A experiência de elementos como Mariappa, Wes Morgan ou Jobi McAnuff apenas reforçam um potencial que está todo virado para o futuro.

Depois da chegada de Schafer, vai também sendo cada vez mais difícil continuar a chamar a esta equipa os “Reggae Boyz”. De facto, pouco ou nada reflete do estilo de jogo desta equipa as ideias pré-concebidas que temos da Jamaica. Se fossemos buscar termos musicais, melhor seria falar de uma espécie de banda Punk, tal é a forma dura como a equipa procura sempre o choque na disputa de bola, e como acelera rápido nos riffs do contragolpe para tentar surpreender os seus adversários. Será com essa transformação da mentalidade de jogadores com um potencial físico enorme que a Jamaica fará a sua estreia na final da Gold Cup.

A desilusão Klinsmann

Não há outra forma de o escrever. Jurgen Klinsmann tem sido uma desilusão na forma como gere a sua passagem pela Seleção dos Estados Unidos. Com um universo de jogadores disponíveis imenso, cada vez mais fortalecido pelo número de jovens que atingem o profissionalismo depois de terem sido formado nas diversas academias espalhadas do país, para além de ter recurso a uma enorme diáspora espalhada pelo México e pela Europa, não há razões para se dizer que, no que toca a jogadores, os Estados Unidos possam sentir dificuldades para ter duas ou três opções para cada posição.

Jurgen Klinsmann EUA

Klinsmann de cabeça baixa depois da eliminação.

Jurgen Klinsmann falhou em alguns factores que são, na minha opinião, essenciais. Primeiro deles: ignorar a organização do futebol nos Estados Unidos para tentar impor o seu modelo. Segundo: ser obrigado a recuar mais do que uma vez dado que o talento de certos jogadores ignora o local onde aparece. Terceiro: tentar conjugar uma ideia de futuro com a realidade de, em determinados contextos, a equipa não poder falhar. Em suma, o técnico não conseguiu resolver o problema de ter que ganhar já, na Gold Cup, podendo deixar as experiências para jogos amigáveis ou outros formatos competitivos onde a pressão sobre a sua equipa era menor. Mas ao não saber interpretar este facto, o alemão colocou-se na boca do lobo.

Agora, caberá ao técnico levar ainda a seleção dos Estados Unidos ao jogo de playoff com o vencedor da Gold Cup 2015 que decidirá o representante da CONCACAF na próxima Taça das Confederações. Caso não vença esse encontro, o seu caminho poderá chegar ao fim. Com a agravante de apresentar piores resultados do que os seus antecessores Bob Bradley e Bruce Arena.

Para além dos finalistas

Merece o Panamá uma palavra pela forma como encarou a prova e, pela segunda vez consecutiva, atingiu as meias-finais. A qualidade do seu experiente guarda-redes, Jaime Penedo, e a forma como Alberto Quintero e Blas Pérez conseguiram criar perigo na frente de ataque demonstram como é possível encontrar equipas com organização e capacidade tática na classe média desta Confederação.

Trindade e Tobago também deu alguns sinais positivos no que toca a um regresso à luta por uma vaga num Mundial, mas o potencial físico dos tobaguenhos exige uma consciência tática mais forte a partir do banco, algo que poderia trazer enorme benefício a uma geração onde Cordell Cato, Joevin Jones ou Sheldon Bateau podem ser referências.

Outro jogador a merecer algum destaque é o avançado haitiano Nazon, que formado no Lorient conjuga capacidade técnica e a figura possante dos avançados franceses. Pelo lado negativo, as grandes esperanças da seleção do Canadá, Tesho Akindele e Cyle Larin, voltaram a adiar uma performance de rendimento alto, saindo da prova sem qualquer golo marcado.

Termino com o mesmo tema com que comecei. Será que hoje em dia faz sentido continuar a alimentar a existência da CONCACAF, ou não beneficiariam todos estes países de uma subida da competitividade internacional ao disputar um campeonato continental, de clubes e seleções, bem como o apuramento Mundial com equipas da CONMEBOL? Uma pergunta a precisar de uma reflexão mais aprofundada.