No balanço da temporada 2014/15 do futebol germânico, ficamos a saber que o futebol na Alemanha é, por estes dias, um corpo dinâmico em evolução que está em constante busca de novas respostas para os problemas que a modalidade lança. Muito mais do que devedor de um efeito Guardiola na Bundesliga, para quem seguiu de perto o que se foi passando nos diferentes níveis deste campeonato, encontram-se algumas respostas, mas talvez muito mais dúvidas sobre o que será o futuro do jogo.

Guardiola Bayern

Guardiola tem mais um título

1.
Um campeonato que tenha Pep Guardiola será sempre um lugar onde a conversa sobre o pensamento tático do futebol se coloca de forma mais premente do que qualquer outro. Se esse campeonato for o alemão, então estaremos perante a confluência de duas vontades mentais de expressão fulgurante. Não se pode analisar o percurso de Guardiola pelos seus resultados, porque não são os resultados aquilo que marcará o lugar do catalão na história. O mesmo se aplica ao futebol germânico no seu todo, ou melhor, ao atual momento do futebol germânico, ainda que o título de campeão de mundo muito ajudará a focar as atenções no que aqui se faz. Talvez por isso não exista outro campeonato onde tantos técnicos e equipas podem servir para abrir as portas a novas tendências para se jogar o jogo. Por muito que se possa olhar para outros lados, o que vai ser o futebol do futuro já é o presente na Alemanha.

2.
O Bayern de Munique poderá ser um eterno campeão alemão porque o seu próprio ADN assim o permite. É um clube feito para ser vencedor e com um potencial económico-financeiro que faz dele um predador no seu território. Os melhores jogadores alemães acabam por, de uma forma ou de outra, cair nas teias do Bayern. Mas isso não chegava. O Bayern procurou em Guardiola algo mais. Ser vencedor, sim, mas fazer também parte de outra história que ultrapassasse os limites fronteiriços da Bundesliga. Se a equipa ainda não conseguiu encontrar a fórmula para ganhar várias Ligas dos Campeões consecutivas, a verdade é que não só se inscreve, hoje em dia, como uma das equipas mais bem preparadas e estudadas do futebol mundial, como também relançou várias questões filosóficas sobre o futuro do futebol. Pep Guardiola está a construir mais do que uma equipa – assim lhe permitam as vozes discordantes da Bavária – e a ganhar o que pode enquanto o faz.

3.

Vieirinha Wolfsburgo

Vieirinha, o português foi reconhecido na equipa do campeonato

O Wolfsburgo ocupou, este ano, o lugar de vice na Bundesliga, terminando no segundo lugar, vencendo ainda a Taça da Alemanha. Para a história do campeonato, fica assinalado o facto de Dieter Hecking ter sido o melhor intérprete das questões lançadas por Pep Guardiola aos restantes técnicos da Bundesliga. Com uma equipa capaz de desenvolver contragolpes mortíferos, o Wolfsburgo foi uma equipa temida pelos conjuntos mais fortes, enquanto, perante os restantes concorrentes da Bundesliga, demonstrou também a inteligência e as armas para jogar organizado. Hecking transformou, ainda, Vieirinha no melhor lateral-direito da Bundesliga e ofereceu nova vida a Bas Dost, com o holandês a marcar 16 golos em apenas 21 jogos no campeonato. Para o ano, o regresso à Liga dos Campeões irá elevar os desafios.

4.
Jurgen Klopp despediu-se de Dortmund sem nenhum título alcançado na presente temporada, mas tão depressa não será esquecido pelos adeptos dos mineiros. Será sempre Klopp a face ligada ao regresso do Borussia ao topo do futebol europeu, depois de conquistar dois títulos alemães. Será também Klopp um dos grandes influenciadores do futebol pressionante que permite ter no contra-ataque uma das armas mais bem exploradas na Bundesliga. Finalmente, tendo eliminado o Bayern de Munique nas meias-finais da Taça da Alemanha, coube também a Klopp ser o homem que mais difícil tornou a vida a Pep Guardiola durante a sua estadia alemã. Demasiados pontos positivos para que não fiquemos à espera de ver Klopp em breve, onde quer que exista um campo de futebol.

5.
Como um avião a voar abaixo do radar, o Borussia Monchengladbach volta à Liga dos Campeões, tendo terminado em terceiro lugar na Bundesliga. Lucien Favre é uma velha raposa do futebol germânico e foi pescando na Bundesliga um plantel que tem tudo que ver com o sucesso da equipa que alcançou a forma para ultrapassar o Bayer Leverkusen numa luta que soava desigual – porque o Bayer, para além do dinheiro, acumulou anos de experiência na maior prova do futebol europeu. No entanto, o brilharete fica como que escondido atrás da melhor posição do Wolfsburgo ou o reconhecimento de outros técnicos, mais jovens, a caminho de equipas mais poderosas. Lucien Favre não é, no entanto, homem de se deixar afetar. Para o ano, voltará a andar pelo topo, com os seus pézinhos de lã.

6.
A manutenção foi uma das grandes histórias da Bundesliga, este ano, até porque se fez com alguns grandes nomes do futebol alemão. No final, salvaram-se todos, mas Estugarda, Hertha de Berlim e Hamburgo andaram a caminhar sobre brasas durante muitas das jornadas do campeonato. A fava acabou por calhar ao Paderborn, que não aguentou o impacto da subida à Bundesliga, e ao Freiburg, que ainda à pouco andava pela Europa. A linha que separa o sucesso europeu e a descida de divisão é muito ténue, numa Bundesliga cada vez mais exigente e competitiva. Um aviso que Ingolstadt e Darmstadt, uma estreia e um regresso após 33 anos de ausência, não poderão ignorar.