Há ideias que ao fim de algum tempo se tornam verdades absolutas sem que a sua veracidade tenha sido comprovada. No futebol, esta é, também, uma verdade.

São os prognósticos só no fim do jogo, ou o que é verdade hoje é mentira amanhã.

Também há os conceitos que se foram enraizando com o passar dos anos e pela reiterada confirmação da ideia que, mais coisa menos coisa, acabava por confirmar-se: o Sporting não chega ao Natal, por exemplo. Agora, felizmente, é um anedotário do passado. E, para bem do futebol, espera-se que assim continue.

Mas vai embora um, chega logo outro, que o futebol não sobrevive sem as suas anedotas, bastante popularizadas pelos adeptos adversários que, aos poucos, se vai infiltrando dentro de casa própria.

Ido o Sporting CP, chega o FC Porto. Ou, mais concretamente, o seu treinador, Julen Lopetegui. Depois de ser o treinador que pôs uma equipa a jogar para as laterais, ignorando a baliza, agora, Lopetegui é o treinador do empata. Não há jogo do FC Porto que não termine em empate (os 6 a 0 ao Bate Borisov foi a excepção que confirma a regra).

Mas sejamos honestos: Lopetegui trabalha bem para conseguir ser o que é. É teimoso o suficiente para arrastar até à exaustão (ou, pelo menos, até Pinto da Costa o permitir) essa reiterada vontade de não querer construir uma equipa. Pode dizer-se, o caminho mais curto entre dois pontos, não é a opção do treinador espanhol.

Julen Lopetegui

Os árbitros já passaram a ser o principal alvo do treinador do FC Porto

Ontem, Terça-feira, contra o Shakhtar Donetsk, jogo que terminou, mais uma vez, empatado (resultado conseguido no limite, depois de Jackson Martinez ter saltado do banco para salvar a pele do treinador), Julen Lopetegui voltou a fazer das suas. O meio campo voltou a ir à mesa das operações para nova experiência. Desta vez com Marcano, Óliver e Herrera. Mais tarde entrou Quintero para a saída de Marcano. Um meio-campo cheio de novidade. Onde ficou Rúben Neves e Casemiro (a grande aposta de Lopetegui)? Bom, Casimiro está lesionado. Rúben Neves ficou no banco. E o FC Porto? Onde ficou? Pelos vistos, nas anotações do treinador. Mais uma experiência a dar mau resultado. Foi ao recuperar uma ideia feita (Jackson Martinez é um matador!), que o treinador recuperou uma parte da asneira que tinha produzido. Pode vir, todo encrespado, vociferar contra as arbitragens que não desculpa o principal erro, o dele próprio. Julen Lopetegui é autista. Não ouve, não sabe, nem quer saber.

Passamos metade de uma vida a ouvir dizer que os jogadores precisam de se entrosar, criar laços, ligações, entendimentos, dar respostas antes de ouvir as perguntas, serem o prolongamento, efectivo, uns dos outros. Fala-se em adaptações. Duplas que se tornam imbatíveis ao fim de alguns anos a jogar juntos.

Bom, mas isso era antes. Antes da chegada do mister Julen Lopetegui, antigo treinador do Rayo Vallecano e das selecções espanholas de formação. Julen Lopetegui, que perdeu o sorriso entre a pré-época e o presente momento, veio revolucionar toda uma teoria feita de saber acumulado ao longo dos anos. Para Lopetegui, a base de uma equipa constrói-se com a constante rotatividade dos seus elementos para evitar a criação de todo e qualquer apego ao lugar. Com ele um jogador não cria musgo nem ganha mofo. Nem ganha mais nada. Nem cria nada com os seus companheiros.

A brincar, a brincar, quer falar-se de coisas sérias.

Percebe-se que, tendo uma equipa tão bem recheada de talentos, e que nem todos podem ser utilizados, Lopetegui leve a rotatividade ao seu extremo. Poderia levar um jogador até ao seu limite, fosse por cansaço, lesão, disciplina, mas promovendo uma salutar competição em que jogava os que estavam em melhor forma e mais garantias dessem. No fundo, o que faz a maioria dos treinadores que têm a possibilidade de contar com um plantel tão rico e recheado como o do FC Porto desta época. Mas não. Julen Lopetegui faz o mesmo que Paulo Bento, mas no seu contrário. Se para o ex-seleccionador nacional havia jogadores proscritos e outros com lugar marcado, independentemente da sua forma física ou mental, para o treinador do FC Porto dá-se precisamente o caso contrário: independentemente da sua forma, um jogador nunca tem a garantia de poder jogar dois jogos seguidos. Amanhã será sempre independente de hoje.

Veja-se o caso extremo de Ricardo Quaresma (sobre o qual há mesmo um filme, mas de série Z): não foi convocado para esta eliminatória da Liga dos Campeões com o Shakhtar Donetsk, depois de ter sido titular contra o Sporting CP, no jogo anterior, embora tivesse sido substituído ao intervalo, e depois de ter sido um suplente utilizado contra o Boavista no Dragão (entrou aos 74′), não tendo saído do banco no jogo imediatamente anterior contra o Vitória de Guimarães. No jogo da Liga dos Campeões anterior, contra o Bate Borisov, que o FC Porto venceu por 6 a 0, Ricardo Quaresma jogou os 90′. Resuma-se: Ricardo Quaresma foi titular no 90′ de jogo contra o Bate Borisov que o FC Porto derrotou por 6 a 0; Ricardo Quaresma foi pouco, ou nada, utilizado nos 4 empates que o FC Porto de Julen Lopetegui tem acumulado nos últimos jogos.

Paulo Fonseca

Nesta altura, no ano passado, o FC Porto de Paulo Fonseca ia em primeiro na Liga

Só para arrumar um pouco mais as ideias. Com outra equipa, Paulo Fonseca, no ano passado, à sexta jornada, estava em primeiro lugar na Primeira Liga com 16 pontos, 5 vitórias e 1 empate, 12 golos marcados e 3 golos sofridos. O FC Porto de Julen Lopetegui, com uma equipa que é, unanimemente considerada muito melhor, está, à mesma sexta jornada, em segundo lugar na Liga, com 3 vitórias e 3 empates, com 8 golos marcados e 2 golos sofridos.

A pergunta que vai começar a ser formulada nos próximos tempos será: Julen Lopetegui chegará ao Natal?

Ou o treinador arrepia caminho, ou será o presidente do FC Porto a fazê-lo. Não seria a primeira vez.

Boas Apostas!