Agora a Primeira Liga deu, finalmente, o passo para a segunda parte do campeonato que começou ainda em Agosto passado, andavam as equipas à procura de jogadores, forma e conteúdo.

Na equipa do SL Benfica, foi o que se viu. Foi-se uma equipa campeã, e tardou a montar-se outra. Entre o vem-e-não-vem e aqueles que realmente foram, pouco restou de um SL Benfica que, semanas antes conquistara o Campeonato, a Taça de Portugal, a Taça da Liga e fora finalista da Liga Europa.

Mas ao contrário de outros anos, e de outros desejos, e de adversários directos, mesmo rivais, o SL Benfica arrancou pragmático para esta época. Sabedor das suas deficiências, Jorge Jesus implantou um sistema para não perder tempo. A ideia era ir ganhando os jogos, não importando como, se com um futebol assim ou assado, desde que contasse com os 3 pontos no final dos 90 minutos.

Para tal, assumiu prescindir da Liga dos Campeões e do desgaste que daí adviria, não tendo, com entanto, feito bem as contas e acabou, até, por falhar a Liga Europa.

O SL Benfica que Jorge Jesus arquitectou para este ano está a fazer uma época caseira, e já não completa. Depois de ter sido eliminado pelo SC Braga, em pleno Estádio da Luz, para a Taça de Portugal, ao SL Benfica já só lhe resta a defesa do título da Primeira Liga e da Taça da Liga.

É preciso, contudo, não esquecer que as águias já contam, este ano, com um troféu ganho: a Supertaça Cândido de Oliveira.

Um SL Benfica para a História

A importância desta época, já aqui se disse, é o SL Benfica reconquistar um campeonato, algo que a equipa já não consegue fazer há inúmeros anos, já perdidos na bruma dos tempos. E é para esse apontamento de história que correm as águias.

Maxi Pereira

Maxi Pereira tem sido dos poucos jogadores presentes em todos os momentos, nos melhores e nos piores, mas sempre em alta rotação e incansável

Jorge Jesus percebeu essa premente necessidade, ao mesmo tempo que se via nos braços com uma equipa desfalcada dos jogadores que fizeram os títulos do ano passado. Com tantas saídas e tantas chegadas, algumas delas sem lugar num Benfica que se quer campeão, outros a precisaram de se formar noutras latitudes que não as que adquiriram como hábito, para além dos que chegaram tarde e a más horas (Jonas é o mais que evidente exemplo dessa chegada tardia que tanta falta fazia ao onze da Luz), o treinador teve de optar. E se não se livra do tribunal da bancada que não gostou de ver-se despejado da Europa pela porta pequena (com alguns incompreensíveis maus jogos), pelo menos tem de mostrar que a sua aposta foi ganhar, e garantir o segundo título de campeão nacional consecutivo da sua era.

A estratégia de início foi aguentar. Aguentar as ausências dos que partiram para outros lados. Aguentar as ausências dos lesionados que, se não foram muitos, foram os suficientes dos títulares e por muito, demasiado, tempo. Aguentar os equivocos. Aguentar as experiências e as adaptações. Aguentar a má forma. O desgaste. A adaptação. Aguentar que chegassem, os que faltavam. Aguentar.

E foi assim, de aguentar em aguentar, com os calcanhares a serem mordidos por um FC Porto que, garantem, tem uma das melhores equipas dos últimos anos, que só não o é porque Julen Lopetegui se perdeu no seu próprio labirinto, e por um Sporting CP cujo presidente queria ser campeão à viva-força, mas que o treinador, de pés bem assentes no chão, lá vai fazendo o que pode com uma equipa, ainda, em construção, que o SL Benfica chega, ao virar do campeonato, em primeiro lugar.

E tanto aguentou este Benfica que, na viragem do campeonato, mantém os mesmos 6 pontos de vantagem sobre o FC Porto, e até já consegue nota artística. No fim de uma grande luta, Jorge Jesus já começa a receber os jogadores lesionados, as novas apostas começam a dar frutos e os que entraram tarde, mostram que se tivessem entrado mais cedo…

É o caso de Jonas, que garante ter uma forte apetência para o golo. E é, também, o caso de Júlio César que já leva 719 minutos sem sofrer golos na Primeira Liga, ele que se queixava de uma dor crónica nas costas.

Júlio César é já o terceiro guarda-redes do SL Benfica com mais minutos sem sofrer golos no campeonato, depois de Manuel Bento, em duas épocas e de José Henrique (em campeontos nos anos ’70 e ’80). E Júlio César aproxima-se já do famoso Zé Gato. Mais 2 jogos sem sofrer golos e Júlio César estará, de novo, a fazer história.

Um Equipa Passeou-se pela Madeira

O jogo a que se assistiu ontem foi executado por uma equipa que já pensa e respira como tal.

Da baliza à linha de ataque, o SL Benfica foi uma equipa grande, completa e bonita.

Júlio César chegou em boa hora a Lisboa. Com Artur nas más graças da Luz, faltava à equipa um guarda-redes que fizesse esquecer Oblak e a sua saída forçada. Mesmo já contando com 35 anos, a caminho dos 36 (em Setembro deste ano), e mesmo tendo começado titubeante a sua estreia no SL Benfica, Júlio César acabou por mostrar toda a sua classe e está, neste momento, numa grande forma que tem tornado a baliza encarnada inviolável desde há mais de 700 minutos.

Sálvio

Sálvio de regresso à equipa na fase mais necessária e decisiva e com 2 golos

A defesa, que perdeu umas das suas principais referências (Garay) no eixo, e um lateral esquerdo como há muito não se via na Luz (Siqueira), acabou por encontrar em Jardel uma peça que, não sendo de primeira qualidade, tem funcionado bastante bem. Mesmo agora, na ausência de Luisão, Jardel fez boa dupla com César e Lisandro López que, a precisarem de tempo de jogo e de adaptação, começam a dar garantias de grandes centrais. A esquerda, para onde veio Eliseu, antiga paixão de Jorge Jesus, para uma posição onde ainda tinha o lesionado Sílvio (que recuperou agora, quase um ano depois da lesão) e um Benito em que Jorge Jesus não confia, e por onde andou André Almeida (o faz-tudo do treinador), parece agora a querer estabilizar. Na direita, agora e sempre, Maxi. maxi Pereira para todas as épocas e todos os jogos.

No meio-campo, de onde se perdeu Enzo Pérez (depois de já ter ficado sem Matic a meio da época passada, para além das ausências forçadas, por lesão, de Fejsa e Rúben Amorim), parece, finalmente, que Samaris começa a perceber o lugar e o que o treinador quer dele. A meio da semana, já Bryan Cristante também tinha dado boa conta de si. Para além disso, o regresso do lesionado Sálvio e a adaptação de Talisca a recuperar o poder de um meio-campo onde ainda se descobriu um Pizzi a querer mostrar apetência para o lugar.

Na frente, Nico Gaitán continua como o mais esclarecido dos jogadores do SL Benfica, e espera-se que a lesão de ontem não o afaste mais do que o próximo jogo, como está previsto. Numa altura em que Jonas se fixou como o ponta-de-lança que faltava e Lima recomeçou a marcar, os extremos são de grande importãncia para municiar os marcadores. Uma segunda linha, feita por Ola John, que regressou em grande, e Derley que tem mostrado trabalho nos minutos que vai acumulando, deixam antever algumas garantias para o que falta de campeonato.

A juntar a isto, uma série de jovens vindo da equipa B e dos júniores que, aos poucos, começam a entrar nas contas de Jorge Jesus.

Ontem na Madeira, esta equipa entrou forte, desejosa de marcar cedo, para cedo começar a descontrair, mas sem nervoso, jogando um futebol limpo e bonito, sem rodriguinhos, claro e eficaz, não dando quaisquer veleidades ao Marítimo para, sequer, empatar o jogo.

Júlio César, Luisão, Samaris, Sálvio, Jonas e Ola John foram, ontem, um verdadeiro terror que andou à solta no Estádio dos Barreiros, tradicionalmente difícil para os encarnados.

Vai ser muito difícil recuperar pontos a esta equipa que está a jogar um futebol tão cheio de si que dá gosto de ver. Não foram aproveitados os tempos de menor capacidade. Agora, vai ser cada vez mais difícil. Estes jogadores estão imbuídos de um espírito de campeões.

Boas Apostas!