Tem sido habitual nos últimos tempos discutir-se a viabilidade de sistemas com 2 avançados, em contrapartida com um maior reforço do sector intermédio, na tentativa de oferecer maior estabilidade defensiva à equipa. O caminho não é o correcto uma vez que neste momento devíamos dar mais importância ao trabalho táctico do que às tácticas propriamente ditas, já que essas estão em vias de extinção.

Portugal é um exemplo claro da diversificação táctica.

Porto de André Villas-Boas em 4-3-3, Benfica de Jorge Jesus em 4-4-2, Boavista de Jaime Pacheco em 4-2-3-1 ou Sporting de Boloni que alternava entre 3-5-2 e 4-4-1-1, havendo ainda outras variantes. São alguns exemplos de equipas que alcançaram o sucesso dentro e fora de portas.

A nível internacional, o Barcelona conquistou a sua primeira Liga dos Campeões em 1991/1992, com Cruyff a ser considerado o grande génio de uma equipa com defesa a 3, alternando entre o 3-5-2 e o 4-4-2, sempre o losango no meio-campo a servir como referência.

A Juventus de Conte voltou a conquistar o scudetto organizada em 3-5-2.

O Manchester City foi campeão inglês, terminando um jejum de 44 anos, a jogar em 4-4-2.

Não existem sistemas perfeitos que levem uma equipa à glória, há sim trabalho táctico que diferencia a qualidade das equipas, onde a dinâmica assume um papel fundamental na solidificação desse mesmo trabalho.

Existem dois conceitos a reter, sistema e dinâmica. Um sistema de jogo é apenas uma representação geométrica da equipa dentro de campo, não passando de uma esquematização mental que um treinador idealiza para a sua equipa com base em determinados princípios de jogo. O sistema de jogo assenta todo ele numa base designada por dinâmica, é isto que cada equipa imprime no jogo e o que leva à diferenciação dos sistemas vencedores. Falar de dinâmica é falar da mobilidade que a equipa leva para dentro de campo. O conceito é amplo e envolve outros factores como inteligência táctica e sentido posicional. Sem estas referências a palavra deixa de saber jogar.

Os princípios de jogo que cada treinador pretende transportar para dentro de campo dependem muito da dinâmica ou ausência desta numa equipa.

O treinador deve potenciar as capacidades dos seus jogadores para atingir eficazmente as suas ideias de jogo. Articulação e sintonia são palavras de ordem para que um treinador coloque a sua orquestra a jogar de forma afinada.

Laranja Mecânica

Há sistemas que marcam épocas. O carrossel holandês da Laranja Mecânica de Johan Cruyff nos anos ’70, é exemplo disso

Dentro do conceito de dinâmica de uma equipa podemos distinguir duas dimensões, uma associada à intersectorial e outra à sectorial. Como habitualmente ouvimos, os jogos ganham-se no meio-campo mas para tal é preciso que os jogadores que actuam no sector intermédio participem no jogo de forma activa para que a equipa funcione. Não existe uma relação directa entre quantidade e dinâmica pelo que não é correcto afirmar que uma equipa com dois elementos no meio-campo é menos activa do que uma equipa que jogue com três elementos no sector intermédio. Torna-se por isso, indispensável analisar a dinâmica da equipa e dos vários sectores antes de abordar a eficiência de uma equipa alinhada em 4-4-2 ou noutro sistema.

Podemos destacar três factores que servem de base à existência de dinâmica numa equipa:

  1. Sentido posicional – grande base do mundo da dinâmica, é onde os jogadores devem estar colocados em campo para começarem a dar dinâmica ao jogo;
  2. Coordenação e Coesão – uma equipa descoordenada e sem coesão intersectorial e sectorial promove uma maior permeabilidade às acções das equipas contrárias, a dinâmica exige coordenação e coesão individual e colectiva;
  3. Capacidade física – velocidade, resistência e mobilidade são algumas características chave que um jogador deve ter para que impulsione dinâmica à sua equipa.

Atitude e esforço são outros conceitos que normalmente são associados a dinâmica embora erradamente. Isto é, um jogador que corre muito e que gosta de se multiplicar por várias acções acaba por se desgastar e perder o seu rumo posicional.

A clarificação destes dois conceitos tão distintos um do outro, ajudarão a melhor compreender a dinâmica de um sistema, condição intrínseca de cada equipa e que varia com as capacidades individuais de cada jogador que depois transporta para campo no âmbito colectivo.

Boas Apostas!